Publicado por Luiz Berto em UMAS E OUTRAS - Uma coluna de Abílio Neto

O Luiz Carlos Magno é o cantor de camisa preta e óculos escuros. Dos demais, só conheço o do meio, o cantor Mozart, também da TV pernambucana dos anos setenta.
“Não gosto de usar o termo música popular brasileira porque essa terminologia é equivocada, porque é a música feita pela classe média. Não é música popular, é música, às vezes boa, como no caso de Chico Buarque, mas não é música popular. Música popular é a música dos cantadores, dos trovadores de rabeca, essa que é música feita pelo povo e que é a verdadeira música popular”. (Ariano Suassuna)
Gostei disso não, viu mestre? Vou citar um exemplo: há uns três anos fui conferir os shows de uma das noites do Festival da Seresta do Recife e quando o Cauby Peixoto soltou a voz entoando “Cantei, cantei/ Jamais cantei tão lindo assim/E os homens lá pedindo bis/Bêbados e febris/ A se rasgar por mim”, a multidão de mais de 40.000 almas foi ao delírio. E era o povão mesmo. Ora, se a música-homenagem “Bastidores”, do Chico Buarque, foi entusiasticamente cantada e aplaudida pelo povo, não resta a menor dúvida de que ele seja um compositor popular, sem pretender tirar o brilho do Cauby como intérprete. E aí ficou mal o Ariano.
E o que pensaria o mestre de Casa Forte sobre a música tida por brega? Devo confessar que sempre fui um apaixonado por esse tipo de música. Nos anos setenta se fez muita música romântica boa, mas aqueles que se julgavam mais cultos diziam: isso é brega, não presta. Pois uma das músicas mais bregas que eu conheço é de Roberto e Erasmo Carlos e chama-se “Cama e Mesa”. Aliás, eu sempre achei Roberto o maior cantor brega que nós tivemos.
O que eu queria dizer mesmo é que nos anos setenta nos programas de calouros das TVs do Recife surgiu um cantor que eu sempre achei fantástico porque tinha a voz limpa, potente, bonita e afinada. Era o Luiz Carlos Magno. Esse rapaz não demorou muito por aqui e foi contratado pela gravadora CBS do Rio de Janeiro, hoje Sony Music. No terceiro disco desse cantor ele arrebentou: sucesso no Brasil, França, Argentina, Chile, Colômbia, Paraguai e Uruguai. Ao longo da carreira conquistou três discos de ouro. Mais popular do que isso, impossível.
Pois bem, há uma música de Luiz Carlos Magno que eu considero um hino do brega, ou melhor, um hino ao amor. Não é uma música, é uma prece. Tanto é uma prece que ele recita nela a Ave Maria. O nome da música é “Ave Maria Pro Nosso Amor”, de autoria de Reinaldo Roma. Enquanto existir um homem que sinta saudade daqueles antigos cabarés, enquanto houver uma mulher enganada, um marido traído ou quem simplesmente sofra por amor, haverá sempre lugar no coração dessas pessoas pra essa música.
Deixe que digam que é brega, nem ligue pra quem pensar mal de você, nem também se importe com o que pensa Ariano a seu respeito por gostar desse tipo de música. Veja que declaração de amor do caralho. Abra uma cerveja e, entre espumas, escute “Ave Maria Pro Nosso Amor” com o inigualável Luiz Carlos Magno que recentemente fez um show no Recife.
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